
Mas dei um “google” em Spike Lee, o mais falado e polêmico
cineasta afro-norte-americano por trincar, ao longo de sua carreira, temas
sobre as questões raciais. Busquei a lista de filmes que ele escreveu e
dirigiu, e muitas vezes também atuou no próprio filme, para começar minha saga “Spikeleeana”.
Comecei por Faça a coisa certa, e acho que realmente comecei pelo filme
certo.
Assista o filme aqui << http://vimeo.com/24908537 >>
Lee constrói o cenário ideal para se discutir as relações
raciais de uma comunidade. O bairro: Brooklyn. A comunidade: italianos,
coreanos, porto-riquenhos, e, majoritariamente, negros. O conflito: como todos
os cidadãos de etnias e culturas diferentes dividem o mesmo espaço.
Busquei no dicionário Aurélio online o significado da
palavra comunidade, que é o protagonista do filme. Comunidade: agrupamento social que se caracteriza por acentuada coesão
baseada no consenso espontâneo dos indivíduos que o constituem. Perfeito,
pelo o que eu entendi, é uma sociedade em comum que vive sob as mesmas regências
e sob possível comunhão.
Voltemos ao filme. Brooklyn está em chamas, pedindo socorro.
Os italianos que não suportam a presença dos negros. Os negros que não suportam
a presença dos italianos, coreanos e porto-riquenhos. E todos se odiando e
tendo sérias dificuldades de viver em comunhão. Isso me remete à colonização
africana, onde os colonizadores dividiram as terras em espaços políticos, e
uniram povos inimigos e separaram povos harmônicos. Resultado: guerra civil.
Mas a grande sacada de Lee foi jogar a questão: Não podemos, então, viver
harmonicamente e respeitando o outro?
De um lado a guerra, o ódio social e racial, o grito
desesperado de socorro, como Buggin 'Out,
que quer boicotar a pizzaria dos italianos porque no mural de celebridades não
havia nenhum negro, sendo que os frequentadores do estabelecimento eram negros;
e Radio Raheem que usa seu som como forma de militância e tenta combater
os porto-riquenhos e, um dos personagens negros não se conforma com o fato de
um coreano ter uma loja no bairro dele. Todo mundo parece ter uma causa
para lutar, até mesmo Mookie (interpretado por Spike Lee), que trabalha na
pizzaria dos italianos e, aparentemente, releva os preconceitos raciais ouvidos
pelo filho do dono da pizzaria diariamente, e, ainda, ouve sempre de Buggin ‘Out
“continue a ser negro”. Mas foi ele quem começa a saquear a pizzaria quando
Raheem foi morto pelos policiais. Mas quem fecha o filme com todo o significado
necessário para a trama ter sentido é o personagem gago, que até então aparecia
só de passagem, sem grande peso. Quando a pizzaria está em chamas ele prega na
parede uma foto de Martin Luther king Jr. ao lado de Malmcom X. Pegou a sacada?
Martin Luther King era um pacifista, lutava apenas com discursos, palavras de
amor. Já X era adepto do olho por olho e dente por dente. A mensagem é: “qual é
a sua forma de lutar?”
Brilhante! Esse roteiro teria todo sentido se fosse rodado
no Brasil, afinal, somos uma sociedade cheia de diversidade, cheia de etnias,
valores, culturas. E também cheia de xenofobia, racismo, preconceitos. A
diferença é que somos velados e vivemos aparentemente em harmonia. Mas e os
corações?
Enfim, estou ansiosa para assistir Go Brazil Go!, próximo
filme do Spike Lee que estreia em 2014 sobre o Brasil. O que eles nos reserva?