A presente pesquisa de Iniciação Científica traz como protagonista o mineirinho de 1.52m que tornou-se um dos maiores nomes e referenciais no cenário cinematográfico brasileiro. Me refiro à Sebastião Bernades de Souza Prata - mais conhecido como Grande Otelo.
Pra que tantos referenciais para citá-lo? Otelo carregava consigo manias, tri-jeitos, expressões e histórias singulares, dignas de destaque. Falar de Otelo é falar de um pretinho pequeno que tornou-se grande muito cedo, quando decidiu sair do seio materno para se aventurar na cidade do Rio de Janeiro. Sempre sem dinheiro, somente com a ânsia de ser ator, Otelo dormiu em bancos de praças, pediu favores, foi inúmeras vezes para o Juízado de Menores, e passou por algumas famílias.
Otelo nasceu em Uberabinha - MG, em 18 de outubro de 1917 - data registrada no arquivo da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, onde foi batizado em 21 de janeiro de 1918. Nasceu alí uma história.
Na obra de Sério Cabral, "Grande Otelo - uma biografia", encontramos uma série de curiosidades sobre o ator que raramente se encontram em sites e artigos. Lá, descobri um dom para mentir ou, melhor, para criar histórias. Foi assim com a data de seu nascimento, que dizia para todos ter nascido em 1915, dois anos antes do que nascera. Isso se deu, talvez, por querer ser mais velho para conseguir papéis que poderiam apenas com a maioridade. Outro caso curioso é que seu prato favorito era bife à cavalo, que quando pequeno, não tendo condições financeiras para pagar, cometia pequenos furtos na casa da família Freitas, onde morava, para ir se deliciar com aquele bife suculento acompanhado de dois ovos fritos.
Otelo demorou anos para perceber que o Brasil era um país que abrigava uma gama de discriminação racial - talvez fosse ingênuo demais ou apenas acomodado em ser chamado de crioulo, preto fedido e outros nomes que os chamavam. Ele ressaltava sempre que o leite que o amamentou foi de uma mulher braca, D. Maria Augusta de Freitas, dona da casa onde sua mãe trabalhava. Anos mais tarde, por volta de 1930, dividiu um quarto de pensão com Abdias do Nascimento - jornalista e militante negro, fundador do Teatro Experimental do Negro. Otelo achava as ideias e lutas de Abdias pelos direitos dos cidadão negros extremistas, julgando-o um "separador de raças". Vale a pena ressaltar aqui sua predileção por mulheres altas e louras, que segundo Peri Ribeiro - filho de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, grandes amigos do ator, essas mulheres, por vezes, o "fazim de 'gato e sapato'".
Por outro lado, Otelo tinha clareza que mesmo sendo um ator conceituado e bem posicionado pela crítica da época, poucos foram seus papéis como protagonista no cinema. O primeiro foi "Moleque Tião" (1943), onde as cópias e negativos foram perdidos por conta de um incendio no estúdio Atlântida, e, 1952. "Gosto de ser escada. Fui escada de Oscarito com muita satisfação", assume Otelo em depoimento ao Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em 1985.
Sim! Como um bom ator, Otelo gostava de se aparecer, arrancar risos e palmas da plateia, mas algo que não era compatível ao seu perfil era o deslumbramento. Ele não se deixava levar por estrelas e grandes nomes internacionais, como quando conheceu Orson Welles e John Ford, dois dos mais renomados cineastas norte-americanos no século XX. Otelo não "puxou o saco" e nem fez euforia, apenas um cumprimento que o rendeu extrema admiração de ambos cineastas.
Essas são apenas algumas das curiosidades de Otelo, apresentadas na obra "Grande Otelo - uma biografia", de Sérgio Cabral. Em breve postarei novos fatos e curiosidades. Até!