quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Coisas sobre Otelo

A presente pesquisa de Iniciação Científica traz como protagonista o mineirinho de 1.52m que tornou-se um dos maiores nomes e referenciais no cenário cinematográfico brasileiro. Me refiro à Sebastião Bernades de Souza Prata - mais conhecido como Grande Otelo.

Pra que tantos referenciais para citá-lo? Otelo carregava consigo manias, tri-jeitos, expressões e histórias singulares, dignas de destaque. Falar de Otelo é falar de um pretinho pequeno que tornou-se grande muito cedo, quando decidiu sair do seio materno para se aventurar na cidade do Rio de Janeiro. Sempre sem dinheiro, somente com a ânsia de ser ator, Otelo dormiu em bancos de praças, pediu favores, foi inúmeras vezes para o Juízado de Menores, e passou por algumas famílias.

Otelo nasceu em Uberabinha - MG, em  18 de outubro de 1917 - data registrada no arquivo da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, onde foi batizado em 21 de janeiro de 1918. Nasceu alí uma história.

Na obra de Sério Cabral, "Grande Otelo - uma biografia", encontramos uma série de curiosidades sobre o ator que raramente se encontram em sites e artigos. Lá, descobri um dom para mentir ou, melhor, para criar histórias. Foi assim com a data de seu nascimento, que dizia para todos ter nascido em 1915, dois anos antes do que nascera. Isso se deu, talvez, por querer ser mais velho para conseguir papéis que poderiam apenas com a maioridade. Outro caso curioso é que seu prato favorito era bife à cavalo, que quando pequeno, não tendo condições financeiras para pagar, cometia pequenos furtos na casa da família Freitas, onde morava, para ir se deliciar com aquele bife suculento acompanhado de dois ovos fritos.



Otelo demorou anos para perceber que o Brasil era um país que abrigava uma gama de discriminação racial - talvez fosse ingênuo demais ou apenas acomodado em ser chamado de crioulo, preto fedido e outros nomes que os chamavam. Ele ressaltava sempre que o leite que o amamentou foi de uma mulher braca, D. Maria Augusta de Freitas, dona da casa onde sua mãe trabalhava. Anos mais tarde, por volta de 1930, dividiu um quarto de pensão com Abdias do Nascimento - jornalista e militante negro, fundador do Teatro Experimental do Negro. Otelo achava as ideias e lutas de Abdias pelos direitos dos cidadão negros extremistas, julgando-o um "separador de raças". Vale a pena ressaltar aqui sua predileção por mulheres altas e louras, que segundo Peri Ribeiro - filho de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, grandes amigos do ator, essas mulheres, por vezes, o "fazim de 'gato e sapato'".

Por outro lado, Otelo tinha clareza que mesmo sendo um ator conceituado e bem posicionado pela crítica da época, poucos foram seus papéis como protagonista no cinema. O primeiro foi "Moleque Tião" (1943), onde as cópias e negativos foram perdidos por conta de um incendio no estúdio Atlântida, e, 1952. "Gosto de ser escada. Fui escada de Oscarito com muita satisfação", assume Otelo em depoimento ao Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em 1985.

Sim! Como um bom ator, Otelo gostava de se aparecer, arrancar risos e palmas da plateia, mas algo que não era compatível ao seu perfil era o deslumbramento. Ele não se deixava levar por estrelas e grandes nomes internacionais, como quando conheceu Orson Welles e John Ford, dois dos mais renomados cineastas norte-americanos no século XX. Otelo não "puxou o saco" e nem fez euforia, apenas um cumprimento que o rendeu extrema admiração de ambos cineastas.

Essas são apenas algumas das curiosidades de Otelo, apresentadas na obra "Grande Otelo - uma biografia", de Sérgio Cabral. Em breve postarei novos fatos e curiosidades. Até!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Primeira pesquisa acadêmica

Fazer sua primeira pesquisa acadêmica - aquela que você sabe que é de verdade -, te inspira uma série de incômodos, descobertas e dificuldades. Digo "pesquisa de verdade" porque as pesquisas feitas na universidade são, na maioria das vezes, as mesmas que fazemos no colegial: "googada" + modificações de algumas palavras, quando utilizado algum livro é uma leitura superficial, só para colocar na bibliografia uma referência. Essas são apenas umas das tantas discrepâncias cometidas por universitários.

Mas quando você escreve uma Iniciação Científica, por exemplo, que é o primeiro contato com o universo acadêmico, você começa a perceber que isso não é brincadeira. Basta ler os documentos de regulamentação da IC. Obviamente não é tão exigente porque é voltada para alunos de graduação, inexperientes e num período curto para desenvolvimento. Mas o processo é mais sério, mais sólido.

Aí você encontra a primeira dificuldade: "Eu sei o que eu quero pesquisar, mas não tenho noção de como colocar no papel". E pior, os direcionamentos que as pesquisas exigem para sua construção não facilitam, só complicam. Escreva: "Objetivo", "Justificativa", "Tema", "Problematização",  "Delimitação do tema", "Hipóteses", "Cronograma", "Metodologia", "Referências"... Você tem vontade de gritar e pedir proteção para todos os santos.
Não arranque os cabelos

A cada tópico acima citado, seu desespero aumenta. Mas claro que tem o seu lado bom: toda essa frustação durante a escrita só ajuda a criar contornos para a sua pesquisa. Ajuda a pensar,  desenvolver e não ficar no "achismo".

Escrever uma pesquisa acadêmica tem seus desafios e suas satisfações. A dica para quem quer se adentrar no campo de pesquisa é escolher aquele tema que você mais gosta e tem prazer para ler artigos e livros referentes, passar grande parte do seu tempo imerso nele. Passar meses, até anos pesquisando aquilo que não te dá prazer, te faz se sentir um medíocre, incapaz, sendo que na verdade, o erro foi o tema escolhido.

O meu tema é fruto de uma vontade de investigar a caracterização dos personagens negros no cinema brasileiro. E mesmo assim já está difícil, porém, a satisfação é tão grande que equilibra as frustações.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Tudo começa com um referencial

Nunca fui cinéfila, muito pelo contrário, lembro-me de ter pouco contato com filmes quando pequena e muito menos com a stuação do cinema - uma sala escura, uma tela grande, uma série de pessoas entretidas com aquelas imagens em movimento que percorrem na frente delas. Não posso negar que para mim tudo isso era um fascínio!

Meu contato com o cinema surgiu já na Universidade, tardiamente. Ouvir as primeiras história sobre os Lumière, George Mèliés,Griffth e outros expoentes do universo da sétima arte foram me encantando, encantando e encantando. Aí, começou uma parte muito modesta ainda do que hoje, no terceiro ano da graduação, eu tenho como uma possível intenção de projetos futuros: trabalhar com o cinema.

O cinema, assim como a televisão, é um artefato da massa. É lúdico, é entretenimento, é educador, é doutrinador e, claro, o popular ditado popular: o famoso "faca de dois gumes". Sim! Ele denuncia um pensamento sócio-cultural de uma sociedade e, ainda, influencia diretamente nesse pensamento ora educando e ora doutrinando.

Mais um fascínio. Mais um tema para ser estudado.

Assim, com o cinema que estava aos poucos descobrindo, associei uma causa pessoal que trago comigo ao longo da minha vivência: o estudo das políticas, culturas e a sociedade afrobrasileira. Como juntar uma coisa a outra? Comecei a lembrar que nos filmes e nas telenovelas que já assisti, os personagens negros - e aqui, com toda a certeza do mundo -, majoritariamente, eram personagens caricatos, estereotipados, sempre assumindo um papel depredável e de baixa posição.

Achei o que estudar! A caracterização do negro no cinema brasileiro.

Achar meu tema não foi difícil. Agora vem a segunda etapa: buscar referências, escrever minhas ideias, reunir citações e seguir todo o processo de pesquisa que exige a Iniciação Científica e o Trabalho de Conclusão de Curso.

Porém, está apenas começando... muitas crises, frustações e descobertas ainda estão por vir.